“O papel de mulher é fazer o que quiser, quando quiser e onde quiser”, afirma juíza Marcella Garcia
Cerca de 230 estudantes da rede pública participaram de roda de conversa sobre violência doméstica promovida pelo PCJE, da Esmal
Foto: Mauricio Santana
“Conhecimento e informação são as maiores armas contra a violência, o machismo e a misoginia. Mulheres podem ocupar qualquer posição na sociedade, desde que seja por escolha delas próprias”. A fala da juíza Marcella Garcia, titular do município de Feira Grande, foi feita durante a palestra “Educar para prevenir e coibir a violência doméstica”, realizada pelo Programa Cidadania e Justiça na Escola (PCJE) nessa segunda-feira (29).
A ação, ocorrida no Pleno do Tribunal de Justiça de Alagoas, foi direcionada a cerca de 230 alunos de escolas contempladas pelo programa e faz alusão ao Agosto Lilás, campanha nacional de conscientização pelo fim da violência contra a mulher.
Além de Marcella Garcia, a palestra contou com a participação do juiz Vinícius Garcia, da comarca de Quebrangulo, da advogada Anne Caroline Fidelis, presidenta da Associação das Mulheres Advogadas de Alagoas (AMADA) e da juíza Carolina Valões, coordenadora do PCJE. O momento foi mediado pela analista judiciária Andrea Santa Rosa.

Equipe do PCJE ao lado dos palestrantes e mediadora da ação. Foto: Mauricio Santana
O juiz Vinicius Garcia iniciou a palestra apresentando dados aos estudantes em relação à violência contra mulheres no Brasil, como a estatística de que 80% das mulheres vítimas de feminicídio são assassinadas por parceiros ou ex-parceiros, e que 44% das mulheres sofrem algum tipo de violência diariamente. Em seguida, o magistrado explicou sobre os tipos de violência (física, psicológica, sexual, patrimonial e moral) e as consequências não apenas para as mulheres que as sofrem, mas para toda a família envolvida.

O magistrado Vinicius Garcia respondeu dúvidas de alunos. Foto: Mauricio Santana
A juíza Marcella Garcia, por sua vez, afirmou que, muitas mulheres que vivem em situação de violência doméstica estão presas em um ciclo. O agressor comete o crime, em seguida pede desculpas e vivem um período de “lua de mel”, no qual as coisas aparentemente voltam ao normal, para depois agredi-la novamente e o ciclo ser reiniciado.
“Nós, enquanto sociedade, não podemos apontar o dedo e dizer para essa mulher simplesmente saírem do relacionamento. Existem fatores como dependência emocional, dependência financeira e até mesmo pressão da família, que as prendem nessa relação”, disse a magistrada.

A juíza Marcela Garcia explicou aos estudantes sobre o ciclo de violência. Foto: Mauricio Santana
Já a advogada Anne Caroline Fidelis apresentou aos estudantes um breve histórico da luta pelos direitos das mulheres. De acordo com a profissional, a conquista da Lei Maria da Penha marca algo histórico, por ser considerada uma das melhores leis de proteção à mulher em todo o mundo, uma vez que vai além da punição, mas busca conscientizar a sociedade em relação à violência doméstica.
Finalizando a palestra, a jurista falou sobre as expectativas de gênero impostas desde o nascimento, como mulheres usarem rosa e serem mais atuantes em tarefas domésticas. Ela também discorreu sobre a ainda pequena ocupação feminina em espaços de poder, tendo em vista que as mulheres representam mais de 50% da população brasileira. A advogada concluiu afirmando que essa realidade pode ser mudada com muita luta.

Anne Caroline Fidelis, advogada e presidenta da Associação das Mulheres Advogadas de Alagoas (AMADA). Foto: Mauricio Santana
“Até hoje, mulheres são medidas por suas relações com homens. Isso vai mudar. Isso precisa mudar. Para isso acontecer, precisamos ter noção de que nada muda da noite pro dia e nenhuma mudança vem do silêncio. Vamos lutar diariamente para que essa realidade mude”, disse Anne Caroline Fidelis.
Para a estudante Sara Mical, do Centro Estadual de Cegos Cyro Accioly, as informações da palestra a fizeram refletir sobre seus próprios direitos.
“A lei diz que mulheres têm os mesmos direitos que os homens. Pode até ser assim no papel, mas na realidade é diferente. Esse tipo de palestra é muito bom para fazer a gente repensar nossa sociedade”, concluiu Sara.

Sara Micau, aluna do Centro Estadual Cyro Accioly. Foto: Mauricio Santana
Mauricio Santana - Ascom Esmal/ TJAL
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