Esmal 21/11/2022 - 17:48:59
Estudantes de escolas públicas e juízes dialogam sobre racismo estrutural
Roda de conversa 'Direitos Humanos e racismo: e eu com isso?' fez alusão ao Dia da Consciência Negra

Foto: Mauricio Santana

“É de suma importância saber reconhecer e identificar atitudes e comportamentos racistas, tanto para não perpetuá-los, quanto para poder denunciar. Por isso a importância deste debate dentro das salas de aula e em outros espaços ocupados pela juventude”. É o que disse o magistrado Vinicius Araújo, durante roda de conversa sobre racismo e Direitos Humanos, promovida em alusão ao Dia da Consciência Negra, celebrado dia 20 de novembro.  

Realizada nesta segunda (21), no Complexo Cultural do Teatro Deodoro, a roda de conversa promovida pelo Programa Cidadania e Justiça na Escola (PCJE) foi direcionada a cerca de 80 estudantes das escolas Municipal Antídio Vieira e Estadual Mario Broad. Além de Vinicius Araújo, o momento contou com a participação da juíza Eliana Machado e foi mediado por Carolina Amancio, jornalista e assessora de comunicação da Escola Superior da Magistratura (Esmal).

Eliana Machado, Vinicius Araujo e Carolina Amancio durante a roda de conversa. Foto: Mauricio Santana

O juiz Vinicius Araújo iniciou a roda de conversa relatando suas vivências e percepções do racismo estrutural ao longo de sua formação. Ele contou que, à medida que seu grau de escolaridade ia progredindo, o número de pessoas negras ao seu redor, no seu círculo de relacionamentos, foi se tornando cada vez menor. Quando chegou ao cargo de analista no Superior Tribunal de Justiça (STJ), havia apenas três colegas negros.

“Quando falamos em racismo estrutural, não é sobre xingamento e agressão, nada assim escancarado. É sobre formas mais sutis de racismo, como menos pessoas negras em espaços de poder e maior dificuldade de pessoas negras terem acesso a esses espaços”, explicou o magistrado. 

Já a juíza Eliana Machado mostrou uma perspectiva diferente, vinda de alguém que viveu em espaços privilegiados desde muito nova. Ela contou que viveu situações de racismo constantemente, como os apelidos maldosos durante a infância e adolescência. Uma das consequências disso foi a tentativa de “se embranquecer” ao alisar os cabelos e usar maquiagem que padronizasse a sua beleza. 

A magistrada também relatou aos alunos que com o decorrer do tempo foi compreendendo a si mesma como pessoa negra e hoje em dia busca lutar ativamente por um mundo mais justo e igualitário. Ela também constatou a necessidade de políticas públicas voltadas a pretos e pardos, visando promover a igualdade. 


Eliana Machado relatou sobre suas vivências transpassadas por racismo. Foto: Mauricio Santana

A jornalista Carolina Amancio também fez considerações a respeito da temática. Segundo a profissional, é necessária a criação de ações afirmativas que não mascarem o racismo estrutural, mas promovam transformações reais e favoreçam a mobilidade social de pessoas negras, que ainda hoje são maioria em grotas e favelas. 

“Vivemos no último país das Américas a ter a escravização abolida. As pessoas pretas foram abandonadas à própria sorte depois desse período nefasto de nossa história ter, em teoria, se encerrado. Disso resulta uma sociedade em que pessoas brancas se sentem no direito, por exemplo, de fraudar cotas destinadas a pessoas negras. O que estamos construindo ao permitir que isso aconteça? É importante que haja políticas públicas que permitam que a população preta esteja nas academias, nos centros de tomadas de decisão, e obtenham ferramentas para defender a si próprias e aos seus", defendeu a jornalista. Carolina finalizou o momento divulgando os números 100 (Disque Direitos Humanos) e 180 (Central de Atendimento à Mulher) para denúncias de racismo. 

Ao fim da roda de conversa, os estudantes  participaram de uma roda de capoeira realizada pelo grupo Akauã Brasil Capoeira e fizeram um pequeno tour pelo Centro de Cultura e Memória (CCM). Na visita ao museu, os alunos conheceram um pouco do Quebra de Xangô, que aconteceu em Alagoas e é o maior episódio de racismo religioso no Brasil.

Integrantes do grupo Akauã Brasil Capoeira durante a apresentação. Foto: Mauricio Santana

A estudante Natany Azevedo, da Escola Municipal Antídio Vieira, afirmou que a roda de conversa a fez refletir sobre comportamentos racistas que por vezes passam despercebidos. 

“Essa coisa de colocar apelido, falar do cabelo, a gente nem percebe que tá cometendo racismo. Esse tipo de evento é muito importante, porque ensina a gente não só a perceber ações racistas, mas também que devemos combater todas elas”, disse a estudante.

Além do PCJE, a realização da roda de conversa contou com o apoio da Coordenadoria de Direitos Humanos do TJAL, da Diretoria de Teatros do Estado de Alagoas (Diteal), da equipe do Teatro Deodoro, do Centro de Cultura e Memória (CCM) e do grupo Akauã Brasil Capoeira. 


Mauricio Santana – Esmal TJAL

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