Adoção sem tratamento especial: defensora da Vara da Infância fala sobre espera pelo filho
Taiana Grave passou mais de três anos na fila até a entrega voluntária de Miguel pela mãe biológica
Defensora pública, Taiana Grave, aguardou na fila de espera pelo filho Miguel. Foto: Adeildo Lobo
A defensora pública da 28ª Vara Cível – Infância e Juventude e mãe por adoção do Miguel, Taiana Grave, contou, nesta sexta (24), aos participantes do 13º Encontro Estadual de Adoção do Judiciário de Alagoas, um pouco da sua experiência durante os mais de três anos na fila de espera pelo Miguel.
“Me habilitei e mesmo trabalhando na vara, não tive nenhum tratamento especial. Entreguei a documentação toda, fiz o curso de habilitação e aguardei na fila. Fiquei por três anos e dois meses aguardando até receber o telefonema. Ali parece o parto da criança, mas a espera foi bem mais longa do que uma gestação”, comentou.
Taiana Grave também explicou como é o processo de entrega voluntária da mãe biológica, um direito da mulher.
“A vara precisa verificar se é realmente a vontade da mulher, porque às vezes, é o momento em que ela está passando. Ela precisa ser acolhida e ter sua vontade respeitada. Depois da entrega, ela tem até 10 dias para se arrepender”, informou.

Promotor de Justiça Gustavo Arns abordou as vantagens da adoção pelos meios legais. Foto: Adeildo Lobo.
Adoção é responsabilidade
A juíza Mylena Camardella, integrante da Coordenadoria Estadual da Infância e Juventude (Ceij), destacou que tão importante quanto falar o amor na adoção, é importante falar sobre as responsabilidades que os pais precisam ter com os filhos.
Na roda de conversa promovida com profissionais que atuam na 28ª Vara da Infância e Juventude e na Ceij, a magistrada contou que há pessoas que procuram a adoção sem ter quaisquer noções de responsabilidade na paternidade e maternidade.
“Por isso há esse cuidado da Justiça no processo de adoção para garantir realmente a segurança e o interesse da criança e do adolescente. As pessoas precisam estar dispostas a passar por todo processo para que a gente avalie”, comentou.
Adoção legal
O promotor de justiça da 28ª Vara, Gustavo Arns, abordou as vantagens da adoção pelos meios legais e o papel do Ministério Público Estadual nessa área de atuação.
“O MPAL não mede esforços para garantir o respeito a ordem da lista de espera, até porque os habilitados estão capacitados a receberem as crianças pela adoção e submeter as crianças a pessoas desabilitadas é muito arriscado”, disse o promotor.
A assistente social da vara, Elisangela Ferreira, também falou sobre a “adoção à brasileira”, que ocorre quando alguém registra os filhos de outra pessoa como se fosse seu, e alguns mitos sobre a adoção.
“As pessoas acham que porque uma mulher que não pode criar o filho, podem pegar a criança. Adoção não é caridade, é proteção à criança e ao adolescente, é interesse da criança e do adolescente. Muitas vezes vê uma criança em situação de vulnerabilidade e quer adotar como ação de caridade e esse não é esse o caminho”, reforçou.
A assistente também contou histórias surpreendentes sobre pessoas que não entendem o que é adoção. “Certo dia ligou uma senhora de quase 80 anos querendo 'adotar' uma adolescente para ter companhia, que cuidasse dela sem precisar ter vínculos empregatício”.

Assistente social Elisangela Ferreira falou sobre os mitos da Adoção. Foto: Adeildo Lobo
Apadrinhamento
Em agosto de 2023, após as discussões e sugestões levantadas no 12º Encontro de Adoções, a portaria que trata sobre o Apadrinhamento em Alagoas foi refeita e publicada. A psicóloga Laura Teixeira, também da 28ª Vara, trouxe as principais mudanças.
“A principal mudança é que o Apadrinhamento Afetivo, o coração do programa, é para crianças a partir de sete anos. Porque são elas que têm menos chances de serem adotadas. O padrinho afetivo agora também passa pelo estudo psicossocial como os pretendentes à adoção”, revelou.
Segundo Laura Teixeira, o “Apadrinhamento Afetivo é a oportunidade das crianças e adolescentes vivenciarem situações afetivas e sociais que vão além daqueles muros da instituição”. A psicóloga falou sobre as duas outras possibilidades de apadrinhamento: financeiro e social.
“No financeiro, o padrinho pode pagar uma aula de inglês, reforço escolar, curso profissionalizante. Não precisa ter contato com o afilhado. No social, é dispor de tempo com o seu saber profissional, como professor de esportes, psicólogo, assistente social”, exemplificou.













