Esmal 06/01/2010 - 17:24:40
Esmal Cultural: Nelson Pereira dos Santos concede coletiva


Cineasta Nelson Pereira dos Santos durante entrevista coletiva na Esmal Cineasta Nelson Pereira dos Santos durante entrevista coletiva na Esmal Caio Loureiro (Dicom/TJ)

     Em entrevista coletiva concedida no Café Literário da Escola Superior da Magistratura, o cineasta Nélson Pereira dos Santos, que está em Alagoas para a abertura do circuito 2010 do Cine Esmal, falou sobre as expectativas de reencontrar o sertão de Alagoas e as memórias do filme Vidas Secas. “Quero rever as locações, conversar com as pessoas e estou torcendo para que a situação tenha melhorado, pois acredito no princípio de que o espírito humano resiste e é capaz de encontrar alternativas para sair das situações mais negativas”, disse o diretor, numa referência ao drama da seca.

     A vinda do cineasta para Maceió marca o início da série de exibições cinematográficas promovidas pela Esmal Cultural durante o ano de 2010. Nelson Pereira dos Santos será o homenageado da noite desta quinta-feira (07), numa programação que começa às 20h, com a reapresentação do longametragem Vidas Secas, baseado na obra do escritor alagoano Graciliano Ramos. Logo após a exibição do filme, o cineasta fará uma palestra para o público.

     Ligação com a obra de Graciliano

     Desde 1992, quando esteve em Alagoas para participar do centenário de Graciliano Ramos, o cineasta paulistano, que mora no Rio de Janeiro e se tornou imortal da Academia Brasileira de Letras, não pisava em solo alagoano. O convite para participar dos debates do Cine Esmal acabou resultando em um novo projeto: o de um documentário, produzido pelo filho de Nelson, e que mostrará os bastidores desse reencontro com Alagoas e as paisagens de Vidas Secas.

     “Acredito que o retrato da miséria e da seca continue, mas torço para ser surpreendido com mudanças”, disse o cineasta. Ao recordar os motivos que o influenciaram a filmar Vidas Secas, Nelson falou da ligação com a obra do escritor alagoano, admiração cultivada desde os tempos de colégio, quando foi apresentado a história de vida de Graciliano.

     “A primeira vez que me deparei com o drama da seca foi no final da década de 50, em Juazeiro da Bahia, quando filmava documentários institucionais. Até então conhecia a seca apenas dos livros de Graciliano e Raquel de Queiroz. Vidas Secas foi sempre meu livro de consultas, e dessas pesquisas nasceu a ideia de fazer o filme”.

     Nelson também falou sobre as dificuldades de adaptar a obra de Mestre Graça para o cinema e do quanto a paisagem árida e a miséria sertaneja lembravam a visão de um campo de concentração. “Uma coisa era ler, outra ver de perto o drama do povo sertanejo. Meu maior desafio foi fazer essa transposição da linguagem escrita para cinematográfica e traduzir o universo que o escritor havia descrito, suas figuras humanas”, recorda-se.

     Para o cineasta, mais difícil que trabalhar com um orçamento de apenas U$ 150 mil dólares à época, e ter que assumir empréstimos pessoais para realizar o sonho de filmar Vidas Secas, foi transformar o clássico em imagens. “A intenção era despertar no espectador os mesmos sentimentos, pensamentos e ideias que a linguagem da literatura tinham provocado no leitor. Foi um difícil trabalho de adaptação”, sentenciou.

     Novos documentários

     Com todo vigor de quem já passou dos oitenta anos, Nelson Pereira dos Santos continua trabalhando e produzindo documentários. “Português, língua do Brasil”, é o título do primeiro de uma série de filmes que o cineasta e imortal produziu sobre a língua portuguesa em todos os seus níveis. O documentário, rodado em 2007, será lançado este ano em circuito comercial.

     O documentário sobre a volta de Nelson ao cenário de Vidas Secas já está sendo rodado. Depois de participar da exibição do filme no Cine Esmal, o diretor viaja na próxima sexta-feira (08) para a cidade de Palmeira dos Índios, onde participa às 11h, de uma entrevista coletiva na Academia Palmeirense de Letras. À tarde, a partir das 15h, ele visita o Museu Casa de Graciliano Ramos e no sábado (09), segue para o município de Minador do Negrão, onde visita algumas locações do filme Vidas Secas.