Esmal 13/01/2010 - 17:30:43
“Nordeste é minha identidade”, afirma poeta finalista
Aluciano Martins retrata em “Sertanejamente” um pouco da vida no Sertão

Concurso Poesia em Cena premiará os melhores poetas no próximo dia 21 Concurso Poesia em Cena premiará os melhores poetas no próximo dia 21 Esmal

     Pernambucano, pai de três filhos, torcedor do Santa Cruz do Recife e fã de Luiz Gonzaga. Esse é o perfil do poeta Aluciano Martins, oficial de Justiça do Juizado Especial Cível e Criminal de Delmiro Gouveia e um dos doze poetas classificados para a final do Concurso Nacional Literário Poesia em Cena, promovido pela Assessoria Cultural da Escola Superior da Magistratura de Alagoas (Esmal).

     O autor concorrerá com “Sertanejamente”, um dos três poemas alagoanos classificados para a final, que acontecerá no próximo dia 21. Nele, o poeta faz um retrato da dura vida no Sertão nordestino, repleta de sentimentos antagônicos como a alegria e o sofrimento. A interpretação ficará por conta do ator baiano Ivan Rodrigues.

     Aluciano, que também é formado em pedagogia pela Universidade Estadual da Bahia (Uneb), diz ter começado a escrever poesia quando ainda era adolescente. “A poesia sempre foi meu refúgio e ponto de encontro com minhas raízes. Participar do Poesia em Cena tem sido uma grande alegria, porque através dos meus poemas posso expressar sentimentos de revolta e conformismo que permeiam o cotidiano do sertanejo”, revelou.

     Sobre a iniciativa

     O poeta aproveitou para falar da importância da iniciativa da presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), desembargadora Elisabeth Carvalho Nascimento, que tem dado uma atenção especial à cultura. “Desejo que iniciativas com o Poesia em Cena e o Cine Esmal sejam projetos contínuos. Não podemos esquecer que a cultura é primordial na formação do ser humano”, declarou.

     Confira na íntegra o poema “Sertanejamente”

     SERTANEJAMENTE

     Autor: José Aluciano Martins de Souza (Delmiro Gouveia/AL)

     Intérprete: Ivan Rodrigues (Paulo Afonso/BA)

     

     Fito a paisagem grafite

     E a aridez desse chão

     Dessa terra em preto e branco

     De valentia e encanto

     Que aqui chamamos de Sertão

     

     Na flora mandacarus

     Xiquexiques e quipás

     Na fauna os rastejantes

     Calangos e emigrantes

     Raposas e carcarás

     

     Casebre de pau-a-pique

     A cadela, a procissão

     A enxada e o jumento

     Labutam no meu quinhão

     

     No crepúsculo da jornada

     Lavo o rosto na bacia

     Pensamentos esquisitos

     Me chegam no fim do dia

     

     No fogão de lenha, às vezes

     Tem preá com rubacão

     No pote a água salobra

     Da cacimba no oitão

     

     Estrelas vazam o breu

     Como se o perfumasse

     Sinto lágrimas teimosas

     Nas rugas da minha face

     

     Perco o sonho olhando a serra

     Vejo a noite que se enterra

     E o “Astro Maior” surgir

     Nosso sol arde brilhante

     E encandeia o governante

     Que muda a vista daqui

     

     E cercado de beleza

     Delírio e desilusão

     Socializo a utopia

     Que no meu peito alumia

     Um viver sem gratidão.