“Ainda carregamos lascas de suor, cortes de chicotes e cheiro de fogão”
Recital sobre discriminação racial comove plateia durante Semana Esmal da Consciência Negra
Durante apresentação, os artistas fizeram uma reflexão sobre a situação do negro hoje Caio Loureiro
O recital realizado nesta quinta-feira (18) durante a Semana Esmal da Consciência Negra emocionou o público que foi prestigiar o terceiro dia do evento promovido pela Escola Superior da Magistratura de Alagoas (Esmal). Os poemas recitados por artistas locais e nacionais relembraram a saga dos negros que fizeram a história do país e chamaram atenção para o real significado do Dia da Consciência Negra.
Ao som do Hip Hop - gênero musical geralmente utilizado para reivindicar espaço e voz da periferia - a presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), desembargadora Elisabeth Carvalho Nascimento, falou sobre a necessidade do combate à discriminação racial. “Precisamos de uma reformulação geral, de uma lavagem cerebral para acabar com esse preconceito racial”, cantou a magistrada, que também destacou o cunho social do evento. “A Semana tem o objetivo de celebrar as conquistas alcançadas e, principalmente, lembrar que a luta continua”, finalizou.
Recitando poemas como “Serra da Barriga” e “Nega Fulô”, ambos do alagoano Jorge de Lima, os poetas e poetisas da noite não só emocionaram a plateia, como fizeram uma reflexão sobre a situação do negro hoje. Os artistas lembraram os movimentos pela abolição da escravatura do século XVIII, a luta por um espaço na sociedade e os preconceitos ainda enfrentados pelos negros nos dias atuais.
José Márcio Passos, assessor cultural da Esmal e um dos poetas da noite, refletiu sobre a comemoração do Dia da Consciência Negra. “A maioria da população ainda pensa o dia 20 de novembro sob a ótica imposta pelas elites, que querem celebrar a data como se fosse um feito extraordinário. Queremos aqui mostrar a história como ela realmente é. Carregamos ainda lascas de suor, cortes de chicote e cheiro de fogão. Esperamos o dia em que iremos abrir a porta dessa senzala e fazer o canto da abolição que ainda não houve”, avaliou.
Com imagens do filme “Amistad”, os artistas recitaram o poema “Navio Negreiro”, do poeta romântico Castro Alves, que descreve a trajetória dos negros arrancados de sua terra, levados como escravos para as fazendas dos senhores de engenho e tratados como animais nos navios negreiros.
Concluindo as atividades do terceiro dia da Semana Esmal da Consciência Negra, a Orquestra dos Tambores de Alagoas conferiu à noite a magia final do evento. Ao som de tambores e tamborins, os artistas lembraram as raízes musicais da África.
Encerramento da Semana
As comemorações do Dia da Consciência Negra terminam nesta sexta-feira (19) com o show da cantora Rita Ribeiro e sua Tecnomacumba. Um palco será montado no estacionamento da Escola da Magistratura para receber a artista maranhense. O som que Rita Ribeiro irá apresentar é uma mistura de MPB, sons eletrônicos, com variações da música afro-brasileira, samba, ijexá, funk e reggae. No roteiro, músicas do CD homônimo e do DVD da cantora, tais como "É d'Oxum"; "Oração ao Tempo", de Caetano Veloso; "Cavaleiro de Aruanda", de Tony Osanah; "Domingo 23", de Jorge bem; "Xangô, o Vencedor", de Ruy Maurity e "Rainha do Mar", de Dorival Caymmi.













