Nacional 25/07/2011 - 13:03:06
“Quanto mais cidadania, de menos polícia vamos precisar”
Beltrame, idealizador das UPPs, participa de painel com representantes das Forças Armadas

Beltrame: experiência exitosa no combate ao tráfico em favelas do RJ Beltrame: experiência exitosa no combate ao tráfico em favelas do RJ Caio Loureiro (Dicom - TJ/AL)

     O delegado federal e secretário de segurança pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, e representantes das Forças Armadas participaram do painel que encerrou as atividades no período da manhã do Seminário Nacional Poder Judiciário e Segurança Pública. “A Garantia da Lei e da Ordem por Forças Federais: Casos dos Complexos do Alemão e da Penha no Rio de Janeiro” foi o tema das discussões.

     Segundo os participantes do painel, a história do Rio de Janeiro torna o estado especial no combate à violência e ao tráfico de drogas. “O histórico do Rio de Janeiro, a questão territorial, topográfica, além das questões de políticas descontinuadas fazem o estado necessitar de projetos especiais na área de segurança pública”, constatou Beltrame. Para o secretário, o histórico, somado às práticas, até então, sem sucesso contribuíram para o avanço da violência. “As políticas públicas de segurança no Rio de Janeiro eram negativas. Não se tinha um conceito nem um lugar onde se queria chegar”.

     As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) que funcionam desde a ocupação do Complexo do Alemão e da Penha em 2010 têm mostrado resultados positivos. Segundo os dados apresentados pelo secretário de segurança pública do RJ, são 17 unidades em 64 comunidades, mais de 3279 policiais. “Todos esses números beneficiam, direta e indiretamente, mais de um milhão e meio de pessoas que circulam todos os dias por essas e outras comunidades”, avalia Beltrame.

     A integração das Forças Armadas foi outro fato importante para o sucesso das operações no Complexo do Alemão e da Penha. “Hoje a integração é ainda mais importante. Quero parabenizar as Forças Armadas, pois essa luta não é só das secretarias de segurança pública, é de todos”, concluiu.

     Beltrame enfatizou que, apesar da experiência exitosa das UPPs, as unidades não são a solução para todos os problemas. “As UPPs não vão acabar com o tráfico, onde houver vício e renda haverá tráfico, o que temos que fazer é apresentar soluções para combater, minimizar. Quanto mais cidadania se oferecer, menos polícia a sociedade vai precisar”, concluiu José Beltrame.

     Forças Armadas

     Representando as Forças Armadas, Adriano Pereira, general do Exército, comandante militar do leste, enfatizou a importância da união entre as polícias e as Forças Armadas para o sucesso das operações. “Além da segurança em eventos oficiais, na realização dos pleitos eleitorais e o combate aos delitos ambientais, é missão do Exército a garantia da lei e da ordem pública”, frisou Pereira.

     “Estamos permanentemente nos pontos fortes das comunidades, proporcionando observação sobre toda a área e dando pronta resposta às necessidades das pessoas que ali vivem”, lembra o general, se referindo à presença das Forças Armadas nos morros pacificados do Rio de Janeiro.

     Segundo o general, para cumprir essa missão todas as unidades, ao longo do ano de instrução e formação dos oficiais, existe uma fase de preparação. “Toda tropa tem instrução em operações dessa natureza”, lembrou Pereira, um dos representantes das Forças Armadas que está à frente das equipes que há oito meses ocupam o Complexo do Alemão e da Penha.

     Após a ocupação dos dois complexos, os números da violência diminuíram. Houve queda de 88% nos homicídios e 78% dos roubos. “Hoje no Rio de Janeiro se vive uma situação de segurança. Não só pelo Alemão e Penha, mas por todas as políticas que vêm sendo implantadas na área de segurança”, contabilizou.

     A Marinha do Brasil também participou das missões de pacificação. Viaturas blindadas e o corpo de fuzileiros navais contribuíram logisticamente da ocupação do Alemão e da Vila Cruzeiro. Segundo o almirante de esquadra Julio Soares de Moura Neto, o momento atual é o grande desafio. “O que é mais difícil é essa fase do pós ataque, é ela que vai fazer com que a população do Rio de Janeiro resgate a cidadania. A ausência do Estado durante muitos anos permitiu o avanço”, concluiu.

     O debate do painel das Forças Armadas foi mediado pelo presidente do Supremo Tribunal Militar (STM), Álvaro Luiz Pinto.